Corrida nas Ruas de São Paulo Deixa Cinco Mortos – 1936
Início de julho de 1936. 20 pilotos estavam inscritos para o I Grande Prêmio Cidade de São Paulo. No dia 9 o treino não aconteceu devido à comemoração do quarto aniversário da Revolução Constitucionalista de 1932. Programado para acontecer no dia 12 de julho, o circuito improvisado nas ruas do Jardim América, bairro nobre da capital paulista, tinha percurso de 4,250 quilômetros, com 60 voltas programadas, num total de 255 quilômetros. O trecho principal ficava na Avenida Brasil, com arquibancadas provisórias de madeira em seu canteiro central.
São Paulo, na ocasião, era chamada pelos paulistas “capital do automóvel no Brasil”, por reunir a maior frota estadual desses veículos. Rio de Janeiro, a capital federal, promovia desde 1933 a corrida internacional Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro, o famoso “Circuito da Gávea”, também improvisado nas ruas. Em 1936 a famosa prova carioca aconteceu no dia 7 de junho. Os paulistas promoveram sua prova um pouco mais de um mês depois para propor à maioria dos pilotos estrangeiros que permanecesse no país a fim de “aproveitar a viagem” e participar da prova paulista, que buscava prestígio internacional e oferecia prêmios atraentes.
Pilotos famosos, como os italianos Carlo Pintacuda e Attilio Marinoni, ambos da escuderia de Enzo Ferrari, que na época preparava carros da Alfa Romeo, o argentino Vittorio Coppoli, vencedor da Gávea do mesmo ano e os brasileiros Manuel de Teffé e Chico Landi, respeitados no Brasil e na Europa. Mas o grande destaque entre os inscritos foi a francesa Hellé Nice, de 35 anos na época, modelo erótica, dançaria e piloto de automóveis, que guiava muito bem e participava regularmente de corridas.
Grid de largada do GP, por sorteio: 1ª Fila: Augusto Mc Carth – Chrysler, Lourenço Ferrão – Ford V8 e Vittorio Coppoli – Bugatti T37A – 2ª Fila: Manuel de Teffé – Alfa Romeo 8C 2300 e Armando Sartorelli – Sacre – 3ª Fila: Irahy Corrêa – Bugatti T37A, Alfredo Braga – Studebaker e Seraphim Almeida – Ford V8 – 4ª Fila: Luiz Mastrogiacomo – Ford V8 e Chico Landi – Fiat – 5ª Fila: Oliveira Júnior – Ford V8, Antônio Lage – Hispano Suiza e Vittorio Rosa – Hispano Suiza – 6ª Fila – Virgilio Lopes Castilho – Ford V8 e Luis Tavares de Moraes – Plymouth – 7ª Fila: Nascimento Junior – Ford V8, Hellé-Nice – Alfa Romeo 8C 2900 e Domingos Lopes – Bugatti T37A e 8ª Fila: Carlo Pintacuda – Alfa Romeo 2900A e Attilio Marinoni – Alfa Romeo 2900A.
Dezenas de milhares de pessoas se espalharam pelas ruas que formavam o circuito paulista. 19 carros alinharam para a largada. Policiais militares se posicionaram ao longo de toda a pista e tinham por missão não permitir que pessoas do público ultrapassassem a corda que delimitava a pista. Nas saídas de curvas foram colocados fardos de alfafa, para amortecer possíveis batidas.
A corrida se desenvolveu normalmente, ficando o público empolgado com as disputas acirradas dos pilotos. Pintacuda e Marinoni, com os melhores carros do grid, logo assumiram a liderança. Duelo interessante pelo terceiro lugar foi travado por Manuel de Teffé e Hellé Nice. Na última volta, a francesa estava prestes a tentar superar o brasileiro quando um soldado da segurança caiu na frente de seu carro. Nice tentou desviar mas não conseguiu. No ato do atropelamento o soldado teve uma perna arrancada e sofreu morte instantânea. O carro da francesa, desgovernado, atingiu os fardos de feno e atingiu o público. Ela foi jogada para fora do carro, caiu do lado oposto da pista, sofrendo vários ferimentos. Internada no Hospital Santa Catarina a recuperação de Helé Nice demorou semanas, mas sobreviveu milagrosamente. O resultado do trágico acidente foi um total de 5 mortos, todos militares da segurança do evento e mais de 30 feridos, alguns com sequelas permanentes.
Como consequência do terrível acidente muitas cidades proibiram corridas de automóveis nas ruas. A necessidade de um autódromo incentivou os paulistanos a buscar uma solução. A providência viria com a construção de Interlagos, inaugurado em 12 de maio de 1940.
