O Sonho de Guiar Para a Ferrari
Oito em cada dez pilotos capazes de guiar com relativa eficiência um carro de corrida, em qualquer canto do mundo, sonham um dia ocupar o cockpit de um Fórmula 1. Considerando o mesmo grupo, dez em cada dez sonham guiar um puro sangue chamado Ferrari.
Marca de automóveis esportivos mais famosa do mundo, a Ferrari é a única que está na Fórmula 1 desde o primeiro ano da competição, em 1950. É a equipe detentora do maior número de vitórias e títulos de campeã na história da categoria.
Ferrari existe no esporte automobilístico como empresa desde 1929. O ex-piloto da Alfa Romeo, Enzo Ferrari, decidiu abandonar o volante, e com isso abrir mão do prazer de pilotar, impressionado com as mortes, especialmente a dos amigos, durante as corridas. Montou uma grande oficina em Módena com a finalidade única de preparar carros de competição. A Alfa Romeo confiava tanto em Enzo que terceirizou seu setor de preparação de carros de corrida com exclusividade para Ferrari. O símbolo do cavalo empinado já era bem visível nos carros vermelhos da escuderia. O plano principal era o de participar do maior número de corridas com o maior número possível de carros. A qualidade do trabalho de Enzo Ferrari ficou evidente com o incrível número de vitórias conquistadas.
Em 1932 a Alfa Romeo decidiu encerrar seu setor de competições e vendeu todos os carros de corrida para Ferrari, que passou a trabalhar também com outras marcas. A rotina de vitórias durou ainda alguns anos. As corridas tiveram uma brusca interrupção em 1939, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial. As atividades esportivas de Enzo foram interrompidas até o ano de 1945, quando terminou o conflito.
O primeiro carro da marca Ferrari saiu da fábrica no ano de 1945, das novas instalações, em Maranello. Já no ano de 1947, Franco Cortese, pilotando o modelo 125 S obteve a primeira vitória para a Ferrari, no circuito de Piacenza.
Toda a história da Ferrari construída a partir de então é pontuada de episódios de invejável extrema competência, tensão diária, cenas de grosseria do mandatário e até uma demissão coletiva de todos os seus engenheiros. Uma trajetória tortuosa, cujos pontos positivos, ao fim e ao cabo, superaram com folga os negativos. Cheia de altos e baixas, uma crise a cada poucos anos, a Ferrari, que assim é até hoje, poderia terminar em falência ou grande sucesso. Chegou à segunda opção. É uma das marcas mais conhecidas e admiradas do mundo.
Lewis Hamilton, mesmo com seus sete títulos mundiais e suas 103 vitórias, não resistiu à tentação de ocupar o cockpit do mais tradicional carro de corrida do grid. Aos 39 anos de idade, o britânico tinha tudo para encerrar sua carreira tranquilamente na Mercedes, lugar em que obteve sucesso sem precedente na história das corridas. A Ferrari teria o convencido a assinar por US$ 100 milhões por dois anos. Contrato no mesmo valor ele também não teria conseguido na Mercedes? Mas aquele cavalinho empinado encanta a qualquer ser vivente capaz de ficar arrepiado ao ouvir o som de um Fórmula 1 rasgando na reta. O piloto pode dar a explicação que bem entender, o símbolo falou mais alto.
Na Mercedes ou na Ferrari não existe a garantia de que Hamilton conquistará mais vitórias e pelo menos mais um título de campeão. Pretendeu, prioritariamente, marcar sua passagem pela Ferrari. Se título e vitórias vierem é por consequência natural do bom trabalho que o britânico costuma executar. Enfrentará concorrência pesada, dentro e fora da equipe.
Certa vez perguntaram a Ayrton Senna, que nunca foi piloto contratado da Ferrari, algo como: — O que você acha da Ferrari? O inesquecível campeão disse: — A Ferrari é uma cor, é uma marca… Parou por aí porque estava ficando emocionado.