A Primeira Corrida de Automóveis do Brasil

                O Automóvel Clube da França havia sido fundado em 1895 e tinha como um dos principais objetivos promover competições dessa nova alternativa de locomoção criada recentemente pela humanidade. A partir do início da produção de automóveis em série, pelas empresas alemãs Daimler e Benz, em 1886, a ideia de promover corridas surgiu em rápida sequência e em 1894 era promovida a Paris-Rouen, primeira prova envolvendo “carruagens sem cavalos”.

                Competições automobilísticas ligando localidades, inicialmente entre cidades francesas, logo se popularizaram pela Europa e Estados Unidos. O Automóvel Clube do Brasil foi fundado em 1907, no Rio de Janeiro, então capital do país. De 1891 a 1907 cerca de 600 automóveis circulavam no Brasil. Só no ano de 1908 foram importados quase 300 novos automóveis. Nos primeiros anos do século XX o Brasil chegou a ser o sexto país no mundo a comprar mais carros.

                No dia 11 de junho de 1908 automobilistas paulistanos se reuniram festivamente na Confeitaria Castelões. O objetivo era o de fundar o Automóvel Clube de São Paulo. Já existia a rivalidade entre Rio de Janeiro e São Paulo. Antes da criação do Clube, os paulistanos proprietários de veículos planejaram organizar um evento de grande porte e chegaram à conclusão de que seriam realizadas competições que envolveriam automóveis e motocicletas.

                Os organizadores definiram uma divisão dos participantes em cinco categorias, nos moldes do sistema francês: Categoria A – Motocicletas, Categoria B – Voiturettes (carros pequenos), Categoria C – Carros de 20 a 30 CV,  Categoria D – Carros de 40 CV e Categoria E – Carros de mais de 45 CV. Pilotos cariocas e paulistas se inscrevem para a corrida, que havia sido adiada para o dia 14 de julho.

                Conhecido como Circuito de Itapecerica, o percurso tinha 75 quilômetros. Saindo do Parque Antarctica, entrava na avenida Antarctica, rua Tabor (Cardoso de Almeida), avenida Municipal (Dr. Arnaldo), rua Cerqueira César (Teodoro Sampaio), mercado dos Caipiras (mercado Pinheiros), passavam pela ponte metálica sobre o rio Pinheiros, estrada do M’Boy Mirim, tomavam a estrada de Itapecerica da Serra e caminho de Santo Amaro (Brigadeiro Luís Antonio) e avenida paulista, onde se concentrava a maior parte do público. A chegada era em frente das arquibancadas do parque Antarctica.  A corrida é o grande evento do ano e boa parte da população de cerca de 250 mil habitantes de São Paulo, ocupou as ruas por onde passariam os participantes.

                Resultados das corridas, por categorias: Categoria A – Motocicletas: 1º) Eduardo Nielsen (SP) – Griffon e 2º) Procópio Ferraz (SP) – Grifffon. Categoria B – Voiturettes: 1º) Antonio Prado Júnior (SP) – Delage, 2º) Francisco Olivieri (SP) – Lion-Peugeot e 3º) José Prates (SP) – Lion-Peugeot, Categoria C – 20-30 CV: 1º) Jordano Laport (RJ) – Renault, 2º) Paulo Prado (SP) – Berliet e 3º) Alípio Borba (SP) – Diatto-Clément, Categoria D – 1º) Silvio Alvarez Penteado (SP) – Fiat, 2º) Gastão de Almeida (RJ) – Lorraine-Dietrich e 3º) Oswaldo Sampaio (SP) – Fiat – Categoria E – Acima de 45 CV: 1º) Jorge Haentjens (RJ) – Lorraine-Dietrich. Por ter percorrido o circuito em menor tempo Sílvio Alvares Penteado foi declarado o vencedor geral.

                Corridas no circuito de Itapecerica nunca mais aconteceriam. Foram disputadas algumas corridas esporádicas nas ruas da capital paulista, até a inauguração do autódromo de Interlagos, que ocorreria em 1940.

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