Juan Manuel Fangio

Juan Manuel Fangio nasceu na cidade de Balcarce, província de Buenos Aires, Argentina, a 24 de junho de 1911. Era filho de pai imigrante italiano e de mãe argentina. Logo cedo, ainda adolescente, se interessou pela mecânica de automóveis. Competidor nato, participou de disputas esportivas, principalmente futebol, mas sem se destacar.

                Nessa época teve contato com os primeiros carros de corrida. Ficou encantado e passou a almejar pilotar aquelas máquinas em “carreteras” pelo seu país natal. Enriqueceu muito seus conhecimentos sobre mecânica com Capetino, dono da oficina que era ponto diário das visitas de Juan Manuel, após o horário escolar. Adquiriu notável conhecimento com essa prática.

                Quando retornou de Buenos Aires, onde prestou serviço militar em 1932, abriu um modesto comércio de automóveis, com suas economias, mais a ajuda do pai e irmãos. Começou em 1934, discretamente, a dar seus primeiros passos como piloto. Com um Ford modelo T emprestado participou de sua corrida de estreia, mas um problema mecânico o impediu de terminar. Fracassou também na segunda corrida. Desencorajado por amigos e familiares, desistiu da carreira de piloto, voltando para a mecânica.

                Seu interesse voltou a aflorar em 1938 quando, com o apoio do irmão Totó, construiu um carro derivado de um chassi de 1934, o equipou com um já usado motor Ford. Numa corrida em Necochea fez tempos entre os melhores. Apesar disso chegou em sétimo. Mas sentiu que tinha potencial para chegar a resultados bem melhores.

                A partir daí Fangio participou regularmente de corridas. Não demorou o convite para ser segundo piloto de um dos ases da época, chamado Finochietto. Foi um dos melhores aprendizados de sua carreira, em uma equipe bem estruturada. Em dupla com o patrão venceu o importante Grande Prêmio da República. Mas teve que voltar à sua antiga condição, guiando seu velho Ford.

                Juan Manuel ganhou grande número de admiradores em sua terra natal, Balcarce. Era um ídolo, a ponto dos moradores da cidade promoverem uma subscrição pública, com a finalidade de comprar um carro melhor para competir em igualdade de condições. Foi assim que compraram um Chevrolet bem mais potente que o velho Ford.

                As competições no automobilismo argentino eram extenuantes, em circuitos que podiam atingir 4.000 quilômetros, pelas estradas no interior do país. Fangio tinha uma invejável estrutura física e desenvolveu com essas corridas uma incrível resistência à fadiga, que seria fundamental para suas futuras conquistas. Também conviveu com casos de mortes de pilotos. No pior caso, cinco pilotos morreram em um acidente de grandes proporções em Tres Arroyos, no ano de 1938. Para os argentinos os pilotos Juan Manuel Fangio e Oscar Galvez se tornaram os maiores ídolos.

                O automobilismo na Argentina era o mais evoluído da América do Sul, nos períodos anterior e posterior à Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Entre os argentinos e os europeus havia um forte intercâmbio. Pilotos da Europa vinham participar das provas argentinas. Em 1948 o governo adquiriu dois Maserati e os cedeu aos pilotos Fangio e Galvez para participarem de um torneio internacional. Pilotos como o italiano Achille Varzi e o francês Jean Pierre Wimille ficaram impressionados ao constatar a incomum habilidade de Fangio como piloto. Wimille declarou: — Se ele tiver em suas mãos uma máquina de corrida adequada a seu estilo, Fangio fará milagres. O piloto francês passaria, a partir desse dia, a ser conselheiro do jovem argentino.

                Diante do sucesso dos principais pilotos do país, o presidente Juan Domingo Perón, decidiu apoiar uma escuderia argentina na Europa. Integraram o time Fangio, Galvez, Bucci e Puopoli. Depois de visitar várias fábricas de carros na Itália, Fangio participou de duas corridas, mas os resultados foram pouco expressivos. Decidiu voltar ao seu país natal e às competições com o velho Chevrolet. Conseguiu inúmeras vitórias com sua estrutura própria.

                Em janeiro de 1949 participava dos treinos para o GP Perón quando sofreu um acidente e veio a falecer o francês Wimille, o protetor do argentino. Fangio ficou abalado mas mesmo assim foi o 2º na corrida vencida por Galvez. No GP de Mar del Plata veio a consagração do ex-mecânico de Balcarce. Depois de uma disputa acirrada com Alberto Ascari e Luigi Viloressi, astros italianos, venceu a prova. Se transformou em herói argentino e reconhecido como o melhor do país.

                Voltou à Europa em 1949 para defender equipes bem estruturadas. O resultado veio em forma de muitas vitórias, se colocando entre os melhores do mundo. Vendo uma atuação sua o grande Tazio Nuvolari, em fim de carreira, previu que Fangio seria o maior vencedor da década de 1950. O piloto argentino chegou a comprar passagem para retornar à América do Sul, quando um rico produtor de algodão concedeu um apoio financeiro e um carro para que a jovem promessa permanecesse na Europa.

                A Federação Internacional do Automóvel (FIA) regulamentou as categorias chamadas de Fórmula 1, 2 e 3. Da Fórmula 1 participariam os pilotos mais experientes e destacados. Seria a categoria principal. A Alfa Romeo produzia os melhores carros de corrida da época. Para a Fórmula 1 lançou o modelo 158, com pouca evolução em relação ao do período pré-Guerra. Contratou Juan Manuel Fangio, Giuseppe Farina e Luigi Fagioli para sua equipe oficial. A temporada de 1950 foi totalmente dominada pela equipe italiana. Depois de 7 corridas Farina se sagrou campeão, com 30 pontos, Fangio foi vice-campeão, com 27 pontos e Fagioli 3º, com 24 pontos. Fangio venceu em Mônaco, Bélgica e França.

                Para o ano de 1951 a Alfa Romeo apresentou o modelo 159. E foi campeã de novo. Agora totalmente ambientado ao automobilismo europeu, Fangio dominou a temporada, tendo os mesmos companheiros de equipe, conquistando seu primeiro título mundial. Dessa vez a Ferrari se apresentou como grande rival, com os pilotos Ascari (Itália) e Gonzales (Argentina) se destacando.

                No início do ano de 1952 a Alfa Romeo decidiu abandonar as competições. Depois de participar do Tourist Trophy, na Inglaterra, Fangio voou para Paris, onde pretendia embarcar para a Itália. Tinha que participar de uma corrida em Monza no dia seguinte. O aeroporto fechou por causa de tempo ruim. Decidiu então ir para a Itália de carro. Dirigiu a noite inteira. Chegando em Monza já assumiu o volante do Maserati. Treinou e foi para a corrida. O cansaço foi o culpado do acidente na curva de Lesmo. Saiu da pista, foi de encontro às árvores e ficou inconsciente. O acidente por pouco não foi fatal. Ficou 42 dias internado, com o pescoço e o tronco engessados. Permaneceu ainda cinco meses imobilizado. O ano esportivo estava perdido.

                Voltou às corridas da Fórmula 1 em 1953, pilotando um Maserati A6GCM. Num ano em que Alberto Ascari e seu Ferrari 500 foram imbatíveis, Fangio fez o que foi possível: 2º colocado nos GPs da França, Grã-Bretanha e Alemanha e vencendo na Itália. Foi o vice-campeão do ano.

                Nos dois primeiros GPs de 1954, Argentina e Bélgica, ambos vencidos por ele, Fangio participou com Maserati 250F. A partir do GP da França, também vencido por ele, passou a integrar a inovadora e forte estrutura da equipe Mercedes, comandada pelo gênio Alfred Neubauer, iniciando a melhor fase da carreira do argentino, absolutamente vitoriosa. Com o modelo W196 venceu ainda na Alemanha, Suiça e Itália. Conquistou seu 2º título mundial.

                1955 foi o ano mais dominador da carreira de Fangio. Venceu 4 das 6 corridas de que participou. Argentina, Bélgica, Holanda e Itália assistiram às vitórias do argentino. Mais um título mundial, o 3º. No final do ano um acontecimento inesperado foi o fechamento do departamento de competições da Mercedes.

                A Ferrari contratou Fangio para o ano de 1956, para fazer dupla com o inglês Peter Collins. O modelo D50 se mostrou eficiente nas mãos do argentino. Venceu os GPs da Argentina, Grã-Bretanha e Alemanha. Somou 30 pontos no ano, contra 27 de Stirling Moss (Maserati) e 25 de Peter Collins. 4º título de campeão mundial faturado.

                Maserati foi a nova casa de Fangio para a temporada de 1957. O modelo 250F mostrou todo o seu potencial nas mãos de um dos melhores pilotos da história do automobilismo mundial. Argentina, Mônaco, França e Alemanha foram as vitórias do ano e o 5º título conquistado. Somente Moss, com o excelente Vanwall, o incomodou, assim mesmo no final do ano, com vitórias em Pescara e Itália.

Juan Manuel Fangio ainda participou dos GPs da Argentina e França de 1958, mas fez o que pretendia fazer no final de 1957: encerrar a carreira de piloto. Depois de sua última corrida o grande piloto declarou: “O milagre não é eu ter sido 5 vezes campeão mundial. O milagre é eu estar vivo”.

Foram 51 GPs disputados, em 7 temporadas completas, 24 vitórias, 29 pole positions, 35 pódios. Venceu 47% das provas em que participou, um índice jamais alcançado por outro piloto.

Juan Manuel Fangio faleceu no dia 17 de julho de 1995, aos 84 anos de idade, em Buenos Aires, vítima de insuficiência renal.

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